quarta-feira, 30 de julho de 2008

Faculdades oferecem de tudo para laçar alunos

Metade das vagas oferecidas pelas instituições de ensino superior privadas estão ociosas. Depois de um áureo período de crescimento, atendendo à demanda reprimida dos brasileiros que tinham como sonho o diploma de curso superior, a explosão do número de faculdades nos últimos anos começa a provocar um efeito bumerangue, voltando-se contra o próprio setor de ensino. Das 2,3 milhões de vagas ofertadas pelas faculdades privadas em todo o país, 1,15 milhão, exatamente a metade do total, não foi preenchida. Em Minas Gerais, o quadro é um pouco melhor, mas não menos grave. Das 237,54 mil vagas disponíveis em instituições de ensino particulares, apenas 133,21 mil ou 56,07% foram ocupadas por novos alunos. Os dados referem-se ao ano de 2006 (os últimos disponíveis) e foram colhidos pelo Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Como o número de faculdades particulares não pára de crescer, a situação atual deve ser ainda mais grave. Leia mais:
Fusões marcam nova fase do mercado da educaçãoVale tudo para inflar vestibularNesse cenário de sobra de vagas, as faculdades, que já foram alvo de disputa dos alunos, com listas enormes de candidatos inscritos e de excedentes na fila de espera, sedentos por uma cadeira na sala de aula, tiveram que mudar o foco e arregaçar as mangas para capturar o aluno, hoje jóia preciosa no mercado. Nessa briga de gladiadores por um mercado que movimenta mais de R$ 20 bilhões por ano, vale tudo para “laçar” o estudante. Imaginação e criatividade não faltam. Inscrição para o vestibular doando apenas um quilo de alimento, vestibulares com várias chamadas, ingresso na faculdade por análise de currículo ou vestibular agendado, descontos para estudantes vindos de outras escolas e para quem indicar outros alunos, oferta de curso de português e matemática grátis antes da prova e até reversão da taxa do vestibular para o programa Criança Esperança. Como se não bastasse, a prática tão disseminada entre as operadoras de telefonia celular para tirar clientes da concorrência começa a aparecer no setor de ensino, provocando polêmica no setor. Para Henrique Pinto dos Santos, superintendente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), chegou a hora da verdade. “O segmento experimentou um crescimento vertiginoso até o fim de 2004. Depois, entendeu-se que o setor educacional poderia ser atrativo e, como todo ramo da economia, criou condições para investimentos. Com a oferta bem maior que a demanda, estamos num momento de maturação do setor, provocando o aumento de fusões e aquisições. Até para fazer parte desse cenário tem que estar forte, e as faculdades de pequeno porte, focadas”, analisa. “O aluno não quer ir só pelo curso, quer uma instituição que realmente ofereça aquilo que ele se propõe a fazer. O ensino à distância também é um segmento que cresce de forma exponencial, pois a faculdade deixou de ter fronteira”, diz. Marcos Facó, superintendente de Marketing da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também considera o cenário crítico das faculdades privadas como conseqüência do binômio oferta e procura. Ele, observa, porém, que isso é realidade em determinados tipos de instituições de ensino. “Nas escolas públicas, a demanda é sempre maior que a oferta. Em instituições privadas de alto padrão, como é o nosso caso, o do Ibmec e o da PUC, também é um pouco diferente. A procura é sempre maior que o número de vagas e não vamos aumentar a oferta, pois estamos focados na qualidade”, ressalta. “Em instituições de massa, porém, estão, realmente, em busca de massa e numa verdadeira guerra de preços, pois a oferta é bem maior que a demanda. Elas passam por um processo de profissionalização, mas com foco no varejo”, diz. Para ele, a tendência é de consolidação do setor. “O cenário atual não mostra claramente o final desse processo. Estamos no início. A educação está passando por transformação no seu mercado e na forma de atuação, com a globalização do ensino. E isso está ocorrendo também nos Estados Unidos e na Europa”, observa.

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